EU ESCRITORA: “Poxas vidas”

Bem…além de desenhar, aprecio a boa leitura, e estou cumprindo um autodesafio. Escrever um livro. O nome do livro é “Poxas vidas”, e você pode acompanhar os textos, sugerindo, criticando, etc., pelo blog do blogspot que escalei especialmente pra isso: http://poxasvidas.blogspot.com/

SEGUE TRECHO DO CAPÍTULO INICIAL

“A MENINA

Foi em 1987. Ela nasceu. Nasceu negra e pobre, na roça do interior do Centro Oeste do nosso Brasil. Pouco tinha…O pouco que lhe tinham doado. Roupas de crianças, usadas. Carrinho doado, berço doado, fraldas doadas. Pouco. A vida dada por Deus. Muito.
As vezes as pessoas reclamam de seu destino, mas de uma coisa todos podem ter certeza. Tudo pode melhorar….Ou piorar. Sempre tem alguém que está com a vida mais sofrida ou abastada do que a nossa. E assim aconteceu com ela. Ela que será chamada de “menina”, “garota”, “guria”. Menina porque seu nome não importa por enquanto. Engraçado. Seu nome tem tudo a ver com sua história. Posso adiantar que ela tem nome de astro. Não astro de cinema, mas astro lá do céu.

A MÃE:

A mãe… alta, magra, sofrida, amarela. Trabalhadora das carvoarias e moradora de casas de pau-a-pique de Lagamar, Minas Gerais. Tez dura, mãos calejadas. A mãe da mãe, uma das muitas Marias do Brasil, morreu logo. O pai…Também… Como pode haver uma família em todos morrem cedo? Essas famílias são daquelas em que as condições de vida são precárias, onde se tem que lutar constantemente contra as doenças da vida: Chagas, Coração, Pressão alta, baixa, diabetes, fome, miséria,indiferença, falta de perspectiva.
Triste que quando se vai a um lugar desses, tem-se a ilusão de que a vida dos cidadãos está predestinada apenas àquilo que fazem: Nascer, trabalhar desde cedo, crescer, casar, ter muitos filhos, morrer na miséria… Não se deparam com as dúvidas de vestibular: Médico? Advogado? Jornalista? Artista? Veterinário ou Designer? etc.
A mãe estava noiva de um camarada de sua cidade, pra ter o destino da maioria de seus conterrâneos (casar, ter muitos filhos, morrer na miséria…), acontece que ela quebrou o protocolo. Apaixonou-se por um homem aventureiro que levou-a de Minas Gerais para o Centro Oeste. O homem era O PAI.

O PAI:

Dentre os atributos do pai estavam: Toureiro, mágico, trabalhador rural, sujeito agradável pra se conversar, com muitos amigos, riso fácil…Negro como a noite, se vem ao caso. Aos quinze anos, fugiu de casa pra quebrar a tradição de seus conterrâneos (Casar, ter filhos…) . Natural de Patos de Minas, deixou sua mãe, outra Maria, em prantos ao sair de casa sem avisar, e seguir viagem rumo à independência com uma comitiva circence. A família pensou que estivesse morto. De sua aventura de dois anos, ficaram algumas definições: O pai não quis ser dependente de mais ninguém, tornou-se exímio em truques de mágica curiosos, como, por exemplo colocar um ovo dentro de uma garrafa de refrigerante sem quebrá-lo e nem modificar o recipiente e passou a não temer quase nada, exceto uma coisa que depois saberão.
O pai fugiu com a mãe, mas não se casaram oficialmente. Talvez ironia do destino, mas além da loucura, ambos compartilhavam uma doença…Parece castigo….Chagas . Do antigo noivo, ela não mais teve notícia…Pudera, agora tinham muitas outras preocupações. De tanto amor/loucura nasceu a menina…negra e pobre.

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